Recomeço.

60 dias.

Esses 60 dias foram um grande desafio, no início, com certeza, é bem pior. Na minha segunda e terceira semana só conseguia sair de casa para trabalhar e estudar, ou malhar, correr depois voltar arrumar a casa, ou estudar também, até que o desconforto, ou fissura, ou angústia em função do vício vinham para a cabeça, aí não conseguia fazer mais nada, era como se o capeta estivesse brincando de pula corda na minha cabeça, e ao mesmo tempo pegar em celular ou ligar a tv ou computador para me distrair disso poderia acabar se tornando uma armadilha, a qual não me levaria necessariamente à pornografia, mas poderia me levar a um comportamento compulsivo alimentado por ansiedade que me levasse a passar o dia em joguinho, ou séries, ou filmes, não ia dormir direito e no outro dia acordaria muito mal, muito mais fragilizado e vulnerável a ceder as tentações do vício. Ou seja, eu só deixava a mente devagar pela minha dor, porque quando a mente não recebe essa anestesia da pornografia começam a vir para a cabeça um monte de coisas e lembranças que me fazem muito mal e quem acompanha o meu diário desde o início sabe que a minha infância e a minha adolescência foram uma coleção de coisas desagradáveis, e na minha opinião o problema nem foi esse porque coisas ruins acontecem com praticamente todo mundo o tempo todo, o problema foi eu fugir disso usando a pornografia com válvula de escape.
Durante a minha rotina diária tenho cuidado com os meus horários, hora de dormir e acordar principalmente, também tenho hora para as refeições e tenho uma lista que fiz de restrições alimentares, só como em casa, nada de comprar na rua ou pedir por aplicativo, geralmente essas comidas vêm cheias de sódio, gordura, óleo ou açúcar, fora os aditivos como conservantes e corantes os quais também podem alterar o meu humor e me levar para uma direção que não quero, e sim, percebi isso em mim já faz um tempo em função da luta contra esse vício, minha estabilidade é muito sensível a qualquer estímulo, e quando reflito percebo que sou assim desde criança só não tinha percebido ainda.
O ambiente que estamos inseridos também exerce muita influência sobre a gente, a minha família é complicada, então aprendi a separa bastante as coisas quando interajo com eles, parando para pensar é um pouco triste essa situação porque somos uma família e eu passo a maior parte do tempo fingindo que me importo com o que eles falam ou pensam, ou fingindo que estou prestando atenção no que eles estão falando, mas se esse é o único jeito de conviver com eles sem enlouquecer então que seja, se existe algum deus ou algum ser superior onisciente em algum canto sabe o quanto eu já sofri por causa deles e o quanto eu já me submeti pra tentar agradar, agora já chega, já deu, sem muito papinho, não nasci para sofrer e ponto, se eles querem se matar ou se destratar todo santo dia fiquem a vontade. Eita, desabafei um pouco demais kkkkk, porém é a realidade, infelizmente. Esse ano ainda ou ano que vem, provavelmente, vou conseguir alugar um barraquinho para mim, e as coisas vão melhorar mais ainda, se deus quiser.
Não sou muito religioso, faz tempo que não vou para a igreja mas rezo todo dia, quando acordo e antes de dormir, também simpatizo com espiritismo. Tem muitas coisas que chamam bastante a minha atenção dentro do cristianismo, tenho que ler a bíblia inclusive. Não acho que deus, se ele existir, vai vir me ajudar ou me proteger, ou me salvar, na minha cabeça não faz sentido nem um ele fazer isso, existem tantas pessoas que precisam bem mais dele do que eu, e ele nos deu o livre arbítrio porque acreditou em nós, somos capazes de fazer o que quisermos, só que, na maioria das vezes, não estamos com a cabeça suficientemente equilibrada para perceber isso. Acredito que as nossas dores são necessárias, nos ensinam, nos deixam em estado de alerta, aumentam a nossa percepção da realidade, o excesso de dor também pode distorcer a nossa visão sobre a realidade, então como diz Nietzsche " O importante é a justa medida ", a proporção equilibrada e correta de tudo que é necessário para a gente conseguir viver, inclusive a dor. Por este motivo também não fujo mais das minhas, deixo elas passarem por mim, acredito que elas só querem um pouquinho de compreensão e respeito. Não estou falando sobre romantizar a dor ou sobre valorizar a dor, estou falando sobre entende-la.
Atualmente consigo conversar com praticamente qualquer pessoa, homem ou mulher, a minha ansiedade nesses momentos esta quase em 0, acredito que se eu continuar na minha rotina essa ansiedade some. Tenho mais facilidade agora para articular melhor os meus pensamentos, sinto que estou muito mais equilibrado, tanto emocionalmente quanto psicologicamente, por exemplo, quando alcancei os 60 dias não fiquei eufórico pois sabia que ainda da para melhorar muito mais e pretendo fazer, mas fiquei contente por ter conseguido. Se fosse a um tempinho atrás esses 60 dias teriam sido carnaval kkkk. Sinto-me mais disposto durante o dia, mais animado, motivado, menos irritado, menos triste, estou bem mais organizado, devido a calma consigo planejar
e executar com mais atenção. O meu objetivo é exterminar da minha vida qualquer pontinha, ou faísca de coisas que me tornam menos, já chega de sofrer.
Ainda tenho muitas coisas para melhorar mais, algumas pontas para acertar, mas é possível rapaziada, a principal questão é essa, é possível. Leiam bastante, informação é a melhor aliada que qualquer pessoa poderia ter, e é isso, vou continuar o diário até os 90 dias e falar o que melhorou quando os alcançar, se tudo der certo ne kkk. Isso foi oq eu adquiri durante esses 60 dias, espero que ajude de alguma forma.