Diário - Aviador (22 anos) - Início: 23/03

Comecei a assistir pornografia muito cedo (com meus 11 anos) e, de lá pra cá, vivenciei alguns prejuízos que essa prática me trouxe. O primeiro contato veio até mesmo antes dos 10 anos, quando pegava, sem que ninguém percebesse, as revistas Playboy que ficavam escondidas no sítio do meu avô. Depois de um tempo, comecei a assistir as fitas em VHS que meu tio alugava, de forma que ninguém também pudesse perceber. A partir dos 11 anos, tive meu primeiro computador com acesso à internet, no ano de 2009. Esse foi o início do meu contato com pornografia na internet de banda larga. Criei por alguns anos o hábito de assistir todos os dias, geralmente logo depois do almoço, quando minha mãe estava dormindo.  No ensino médio esse hábito permaneceu quase que diariamente, alguns dias até mais de uma vez. Talvez isso explique porque durante o colegial eu estava sempre com sono, cansado, com olheiras e desmotivado. Nesses mesmos anos, desenvolvi muito pouco no âmbito social, já que tinha a autoestima muito baixa, o que me fazia ficar em casa quase que todos os finais de semana. Muitos jovens recordam dos anos de colégio com saudade das boas experiências que viveram, mas no meu caso, apesar de ter vivenciado muitos bons acontecimentos, o sentimento não é esse. Não posso atribuir à uma única variável tudo o que me aconteceu nos referidos anos, mas é fato que o vício em pornografia atrelada à masturbação compulsiva teve enorme contribuição.

Comecei a faculdade logo após o ensino médio, no ano de 2015. Fui morar em outra cidade e entrava então no mundo universitário, cheio das expectativas, principalmente expectativas sexuais. Logo no primeiro período, assisti ao vídeo do Gary Wilson explicando sobre os efeitos da pornografia no cérebro, e aquilo me impactou muito. Descobri então, após pesquisar mais sobre assunto, a causa da minha ereção ser tão fraca, bem como da minha ejaculação precoce. Apesar de ter descoberto tanta informação em 2015, não consegui parar até atualmente. Até o ano de 2015, havia tido relações sexuais com duas parceiras. A ejaculação precoce me incomodou na segunda parceira, embora também tivesse ocorrido com a primeira. De lá pra cá, no ano de 2020, entre idas e vindas, diminuí consideravelmente meu consumo de pornografia. Tive outras parceiras, cheguei a namorar por um tempo, mas minha sexualidade foi severamente afetada. A fim de acabar com a ejaculação precoce, tomei por muito tempo um remédio chamado Paroxetina, que teve bons resultados, mas diminuía muito minha libido. Depois de um ano inteiro fazendo uso desse medicamento, percebi que seus efeitos colaterais não compensavam seus efeitos positivos, e então decidi parar de tomá-lo. Decidi que encontraria um jeito natural de contornar a situação, e pra falar a verdade, eu já sabia como fazê-lo.

No ano de 2019, fiquei por um bom tempo determinado a largar a pornografia, devido à vários fatores. Percebi que minha produtividade estava sendo afetada por essa prática. Tive vários streaks de 15-20 dias, mas nunca consegui passar de 30 dias na minha vida. Me tornei um procrastinador de carteirinha ao longo dos anos, tendo dificuldade para realizar até os mais simples projetos. Além do mais, no âmbito sexual, é fato que considerando as relações sexuais que tive até o momento, posso afirmar que em 90% delas tive ejaculação precoce e insegurança com minha ereção. Tenho consciência de que a ejaculação precoce foi adquirida me masturbando erroneamente durante todos esses anos, sempre de posse de material pornográfico.

Através de uma reflexão no último dia de 2019, pude reafirmar que a pornografia e masturbação, juntas, já me trouxeram diversos problemas. Tenho pesquisado muito sobre desenvolvimento pessoal, e pude perceber que ficar sem se masturbar e/ou assistir pornografia está intimamente relacionado com a autodisciplina, a capacidade de escolhermos entre um prazer momentâneo ou uma recompensa à longo prazo. O cérebro de um viciado, seja qual vício for, já têm uma predisposição de escolher sempre o prazer momentâneo, o que impacta em outras áreas como aconteceu comigo, como já disse, na produtividade. Dessa forma, concluo que o abandono desses hábitos ruins é um estilo de vida, é um estado de espírito em que somos capazes que controlar nós mesmos, e que dessa forma, se reflete em outras áreas da vida, como no trabalho por exemplo.

A abordagem religiosa nunca funcionou para mim, embora seja cristão. No meu caso, o combate da pornografia tem que se dar através da informação, da ciência, de entender como nosso corpo funciona. Gary Wilson explica muito bem que a pornografia é uma forma artificial de geração de dopamina, o que sobrecarrega os receptores de dopamina. Dopamina em excesso promove o acúmulo de delta-FosB no cérebro, alterando-o fisicamente, fazendo com que o usuário se torne indiferente aos prazeres que o ser humano evoluiu para buscar, como sexo real, comida e proximidade. O cessamento do vício enfraquece aos poucos essas conexões neurais, o que permite aos usuários de pornografia, em longos períodos de abstinência, alterarem os mecanismos do circuito de recompensa para as “configurações de fábrica”. Embora cada vez mais enfraquecidas ao longo do tempo, essas conexões permanecem no cérebro, exigindo então que o ex-viciado mude seu estilo de vida para que não volte mais a assistir pornografia, sendo capaz de evitá-la em todas as suas formas, de forma espontânea. É um estado de autodisciplina que deve ser construído com base no conhecimento acerca de como um vício age no corpo, e de suas consequências negativas. Eu tenho dezenas de experiências em que fui afetado por esse vício, e você?

Apesar de toda essa informação e vontade em combater a pornografia, eu ainda recaí algumas vezes no ano de 2020. Apesar de não assistir todos os dias há um bom tempo (anos), as conexões ainda permanecem, e quando eu atinjo streaks de períodos maiores do que 15 dias, eu geralmente cedo para o vício, como se eu não pudesse controlar meu próprio corpo. Mas daí que veio a grande virada pra mim, e que me fez escrever esse texto. De nada adianta ter a informação, se ela não está fresca na memória. O que me fez alcançar streaks cada vez mais longos foi ver todos os dias, ao acordar, o mesmo vídeo do Gary Wilson explicando cientificamente o que acontece no nosso cérebro. Todas as vezes que eu recaí esse ano foram em dias que esta não foi a primeira atividade do meu dia. Na última recaída, eu fiquei dois dias sem ver ou ter contato com essa informação.

Isto me fez concluir, pelo menos no meu caso, que uma forma eficiente para escapar do vício é , logo após acordar, assisitr algum vídeo como o de Gary, ou ler um texto como esse, ou ler relatos de pessoas que conseguiram no fórum. Isto cria, com o passar do tempo, a consciência necessária para superar o vício e enfraquecer as conexões neurais.

A segunda e última variável a ser tratada, principalmente no início, é identificar os gatilhos que levam o usuário a ver pornografia, e evitá-los. Analisando meu caso, pude identificar dois: estar sozinho em algum quarto e de posse do celular; e estar no banheiro também de posse do celular. Eventos assim representaram quase que 90% das minhas recaídas ao longo dos últimos 12 meses. Como decidi contornar a situação? Me proibi de estar com o celular nessas situações, pelo menos durante os 90 primeiros dias, até construir a autodisciplina suficiente.

Ter recaído várias vezes foi importante para que eu tivesse plena consciência dos danos que a pornografia me causa/causou. Nunca me senti tão preparado emocionalmente e confiante como agora. Ver os vídeos do Gary me lembram das más experiências sexuais que tive, inclusive a última delas em que não consegui ter ereção suficiente para fazer sexo. Para concluir, declaro aberto a minha contagem a partir das 00h00 do dia 23/03, e de posse de informação e do autoconhecimento, sei que não irei recair. A seguir as medidas que adotarei, e faço questão de divulgá-las, na esperança de ajudar alguém nessa luta interna.