Gardenzio - Sim, nós podemos.

De fato, tenho procurado aumentar minha conexão com Deus. Acho que existem algumas questões de fé que são importantes de se aprofundar, e algumas questões que eu sempre fico me perguntando (aquelas questões clássicas do tipo "Se Deus é bom, porque existe o mal?", "Se Deus criou o mundo, Deus criou também o mal?", "Se Deus é bom, porque não acaba logo com a maldade do mundo?") são realmente válidas de se aprofundar, tanto do ponto de vista filosófico como de fé. Algumas dessas questões eu já meio que tenho uma resposta, mas existem outras indagações mais profundas que são válidas de se pensar. Ou então são apenas críticas imaturas baseadas no testemunho de uns terceiros que se dizem serem seguidores e crentes num tal Deus mas que era melhor que fossem ateus, dado o péssimo testemunho que dão.

Mas creio que um dado objetivo da realidade que preciso compreender é que devo diferenciar alguns pontos: (1) entender que não é porque um indivíduo diz-se ser, por exemplo, cristão, que automaticamente ele se torna um ser de luz semi-divino; nops, continuará com a mesma natureza pecadora (usando a terminologia cristã) de antes, como eu também o sou e como qualquer outro ser humano do planeta Terra o é; a diferença é que esse indivíduo busca seguir um outro estilo de vida que é, muitas vezes, diferente do que uma outra parcela da população não optou por seguir; (2) preciso entender que se eu quiser ser cristão, isso não me tornará automaticamente um ser de luz semi-divino que medita todas as manhãs e que diariamente está em contato direto com o transcendente, sentindo-o, conversando com Ele e ouvindo o Espírito Santo falar comigo todas as manhãs; continuo tendo 2 pés no mundo material-terreno, mas buscando concomitantemente aperfeiçoar-me e melhorar-me enquanto ser humano; (3) preciso entender que, sim, existem muitos hipócritas e mercadores da fé em Igrejas (por extensão: templos, mesquitas ou quaisquer outros lugares de culto religioso de qualquer profissão de fé), ou pessoas que só estão ali por conveniência, mas quem eu acho que eu sou? Um fiscal de Deus? Um juiz da conduta [supostamente] imoral de outros fiés? Per carità, eh?! Claro que não. Não é salutar fundamentar uma busca individual pelo crescimento na vida de fé de outras pessoas. Todas as pessoas são tão errantes quanto eu, talvez elas só façam coisas errantes diferentes das coisas errantes que eu faço, mas em nada muda minha natureza da natureza das outras pessoas. (4) Em nenhum grupo religioso haverá pessoas perfeitas; todas são tão pecadoras quanto eu; estão apenas buscando, de alguma forma e à sua maneira e entendimento, um crescimento espiritual e humano.

Eu, de fato, continuo verificando na realidade concreta que a Fé é uma parte da nossa vida; mas não é tudo. Entendo que é óbvio que para um religioso a espiritualidade é o centro de sua vida, mas não é tudo. Eu não posso escorar-me em Deus para curar-me de feridas emocionais, não obstante Deus possa sim me dar um certo consolo e uma maior razão para viver.

Eu, particularmente, admiro muito a vida de Jesus Cristo. Digo "admirar" para não fazer proselitismo (até porque das inúmeras vezes de discursei sobre religião deixei sempre bem claro que para mim não faz diferença nenhuma em crer ou não crer; o importante é seguir uma vida ética, respeitosa, que quer o bem do outro, e isso pode ser perseguido com a religião, mas, evidentemente, não é apenas perseguido porque alguém que se diz religioso), mas não houve outro Homem na Terra - pelo menos não que a História tenha conhecimento - que se disse filho de Deus, que fez o que Ele fez e que desafiou tanto o status quo a ponto de ser condenado a morte pela pior morte de todas: a crucificação.

Alguém que morreu do pior tipo de morte que qualquer ser humano possa ser condenado - imagine que Sócrates, que também desafiou o status quo de sua época e foi condenado por perverter a juventude e por desafiar a crença nos Deuses, foi condenado a beber cicuta; talvez ele tivesse padecido em 10 min? não sei... o fato é que é uma ""morte muito mais amena"" do que ser crucificado vivo, e, pior, ter passado por toda humilhação antecedente à sua crucificação (como bem conta a Bíblia e como é bem sabido por Historiadores).

Um dado objetivo da realidade é que questionar a existência de Jesus Cristo, do ponto de vista historiográfico, é uma piada. Nenhum budista ou mulçumano xiita que tenha um mínimo conhecimento da idade antiga ocidental, por exemplo, vai questionar a existência de Jesus, da mesma forma que não questiona por exemplo, a existência de Sócrates, que à semelhança de Jesus não deixou absolutamente nada escrito por próprio punho e tudo que sabemos sobre ele - bem como sobre Jesus - foi fruto do trabalho deixado por seus seguidores.

Como um homem, que estava morrendo ao lado de 2 ladrões, chegaria ao ponto de dizer para um deles "ainda hoje estarás comigo no paraíso", pois viu que se arrependeu de seus pecados no último suspiro de sua vida? Ele que disse aos doutores da Lei que estavam prestes a matar uma mulher acusada de adultério (pois essa era a pena da Lei à mulher que cometesse adultério) "pois atirem a primeira pedra aquele que não tiver pecado". Ele que "desafiou" os fariseus (fariseu como classe social de um grupo de judeus) que guardavam o sábado, mas que no próprio sábado se lhe veio uma pessoa que precisava ser curada e mesmo no sábado - dia reservado pelos judeus - Jesus curou essa pessoa. Ele que, ao invés de "formar um grupo" com os instruídos da época (os fariseus, os doutores da Lei, os saduceus) foi formar um grupo de 12 com pescadores, coletores de impostos, pessoas que para a sociedade fossem talvez excluídas ou marginalizadas.

Enfim. Eu às vezes quando olho para a minha vida e vejo quão distante está da vida d'Aquele ao qual gostaria de ter como modelo para minha vida, me acho completamente indigno. Olho, simplesmente observando minha vida cotidiana, meus erros, minhas hipocrisias, minhas incongruências, e vejo quão pecador sou, quão errante sou, quantas merdas faço, quanta coisa deixo de fazer às vezes por egoísmo, às vezes por omissão, às vezes por vergonha, e acho que talvez fosse melhor seguir minha vida tentando encontrar meu caminho. Mas a misericórdia de Deus está justamente aí, em reconhecermo-nos indignos, mas mesmo assim Deus nos amar, perdoar e acolher. Não há distinção de renda, cor, beleza, ou qualquer outro padrão humano, para Deus. Deus sempre estará de portas abertas para nós, e sabemos que Deus sempre está de portas abertas para nós porque a vida de Jesus Cristo foi essa vida vivida na região da Palestina que não fez distinção de classe, de gênero, de cor, de tribo, de renda, de profissão, lado político e que simplesmente dizia a quem queria seguir a Ele: "vem e segue-me". Os que fazem e fizeram distinção em templos religiosos - no corrente ano de 2022, aqui no Brasil, por ocasião de campanha política - de renda, lado político ou gênero é porque, absolutamente, não entenderam complemente NADA da vida que Jesus teve aqui. São sim os mercadores da fé, os sepulcros caiados, nas palavras do próprio Jesus. Não entenderam absolutamente NADA do Evangelho. Conhecem a Bíblia como conhecem o pensamento de um filósofo qualquer, mas não incorporaram os ensinamentos do livro que dizem seguir na vida prática. Apropriaram-se da Fé como bem quiseram.

Não obstante, sigo procurando encontrar um caminho para minha vida. Confesso que esse caminho tem sido aumentar minha fé, e junto a isso ler, ler Filosofia, estudar, buscar conhecimento, instruir-me.

Continuo errante como qualquer um. Continuo entendendo que não sou melhor do que ninguém, apesar de ter plena consciência que, sim, sei de muita coisa que muita gente não sabe, e sei que tem muita gente que sabe muita coisa que eu não sei absolutamente nada.

Enfim, às vezes acho que escrevo demais. Às vezes coisas desnecessárias. Às vezes coisas que seria melhor condividir em outros locais, creio. Mas enfim.